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Dando uma de fotógrafo...

Posted by Odir Macêdo Neto on 22:26 in , ,
Belém, 11 de outubro de 2009.

Aos leitores: Oi.

Bem..., foram muitas coisas acontecendo, e tudo em menos de uma semana. Semana conturbada, cheia de coisa para fazer e com os dias carregados com os preparos para o Círio que ocorreu neste domingo. Em Belém, impossível não ser atingido pela festa católica, sendo católico, sendo evangélico, espírita, judeu, ateu, testemunha de Jeová, satanista, hinduísta, marxista, ou feminista... A cidade inteira se move nos conformes de uma das maiores procissões católicas do mundo.

Eu, estressado e nervoso com os estudos, às vésperas das provas do vestibular, engoli doses amargas e quentes do engarrafamento, do "vuco-vuco" nas calçadas, da fila quilométrica do banco, do supermercado, do caixa da farmácia, da lanchonete do cursinho, da barraquinha do tio da esquina, do banheiro público de um só mictório... Que desgraça. Mas a gente releva, a gente respira fundo e pensa: "Semana que vem é uma outra semana". Mesmo quem é católico se incomoda com o inchaço da cidade, mas se empolga com a movimentação. E eu vou admitir... é interessante e empolgante mesmo...

Por isso, lendo esses jornais da vida, encontrei um artigo bem interessante, falando da impressão que outras religiões têm do Círio de Nazaré e, o melhor, grifando a palavra respeito e tolerância nas entrelinhas do texto de autoria de Anderson Luís Araújo. Como um bom "Ctrl+C'vista", não resisti deixá-lo ali, a mercê da folha impressa, e trouxe-o ao blog:

Evangélico faz exercício de tolerância
Diferença - Adeptos de outras religiões respeitam o Círio e participam de confraternização

Eles não participam do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, mas acabam tendo contato com a maior das festas católicas do mundo. A firmeza nos princípios que diferenciam as crenças deixa os evangélicos fora das homenagens à padroeira dos paraenses. Mas a tolerância e a tradição católica arraigada na história do Estado fazem com que os adeptos do protestantismo respeitem e compreendam a fé dedicada à santinha.

A estudante de Medicina Suelen da Silva Andrade, 25 anos, passou grande parte da sua vida em um mundo completamente católico, tendo inclusive feito a primeira eucaristia. Porém, desde 2001 optou por frequentar e seguir a Igreja Batista Missionária da Amazônia, de orientação evangélica. Ela conta que na época do catolicismo pouco participava das celebrações de sua antiga religião e também não entendia muito bem a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. "Para mim, sempre foi difícil entender. Eu não acreditava muito nessa forma de louvar, apesar de respeitar", conta.

A percepção foi decisiva para que ela mudasse de religião. Hoje, Suelen acaba sendo envolvida pelos festejos do Círio, porque sua família ainda é, em grande parte, católica, mas preserva sua crença. "Sou evangélica e participo do almoço do Círio, na casa de um parente que fica no trajeto da procissão. Mas não é por isso que vou mudar minhas convicções ou mesmo desrespeitar quem pensa diferente de mim", comenta a futura médica.

"Não dá para ser chato como as pessoas que se isolam. É preciso saber dividir as coisas. Até porque quando estou no almoço, confraternizando, não estou indo ao Círio, mas sim para ficar com a minha família", acrescenta. Suelen diz que ao estudar a Bíblia Sagrada começou a firmar seus princípios sobre não adorar imagens, o que lhe afasta da romaria dedicada à Mãe de Jesus. "Acho que a fé, sim, é capaz de operar milagres", pondera.

A evangélica ressalta ainda o lado cultural do Círio de Nazaré. "É interessante. É uma festa que consegue unir mais as pessoas. Muita gente que está longe volta só para o Círio. É bonito. Não é porque minha crença é diferente que eu não vou tolerar ou vou discriminar os outros", assinala.

Significado

A estudante de Administração Thuanne Rodrigues da Silva, 19 anos, também frequenta a Igreja Batista. E compreende o significado do Círio, por ter sido católica, antes de adotar a nova religião, há cerca de cinco anos. Ela explica que, no dia da procissão, o festejo é encarado como um feriado normal, uma data em que as pessoas estão livres para celebrar, visitar amigos e parentes. Porém, religiosidade é outra história.

Embora seja tolerante, Thuanne também menciona a questão da adoração à imagens, que sua religião não permite e acrescenta também outro ponto fundamental na diferença entre o credo católico e o evangélico: a polêmica sobre crer ou não em Maria, mãe de Jesus, como entidade divina. "Deus não divide a glória dele com ninguém. Aprendemos e acreditamos assim."

Liberdade

O pastor e deputado estadual Martinho Carmona fala das diferenças, também, mas deixa claro que "a liberdade religiosa é um direito garantido por lei a todos". "Cada um tem o direito de cultuar a sua crença, segundo a sua fé", assinala. Ele acrescenta ainda que o "paraense é cristão e tem no Círio seu momento mais importante. Nós respeitamos. Igual como os paraenses respeitam quando fazemos a marcha para Jesus. É uma questão de tolerância e respeito ao próximo, aos nossos irmãos", comenta.

(Anderson Luís Araújo, in O LIBERAL, 11 de outubro de 2009.)

Bom texto. Esclarece muita coisa, limpa outras, remonta algumas e derruba certas.

Agora, com relação à semana que passou... Deixando de lado o fato de você ter que ficar mais em casa do que na rua, primeiro porque você tem que estudar, segundo porque você prefere a quietude do lar a ter que enfrentar a confusão urbana, pude colher bons frutos do Círio deste ano. Apesar do arrependimento me bater quando penso que poderia ter sido voluntário da Cruz Vermelha mais uma vez, vejo o que fiz e penso e concluo: bom.

Quis sair um pouco da mesmice e tentar algo de novo. Na verdade, um desejo embutido em mim e que estava só esperando o momento certo para ser expressado. O momento, ou melhor, o tempo chegou e foi hoje, domingo, dia do Círio. Com uma câmera digital doméstica de 10.0 mega pixels, saí pelo meio da multidão, costurando entre os romeiros, clicando tudo o que via pela frente. Desde os pés descalços dos pagadores de promessa, passando pelos corajosos da corda, viajando com a chuva de papel picado, chegando às demonstrações de fé diante da berlinda. Como já disse, o resultado disso foi bom.

Gostaria de pontuar que não concordo com certas práticas católicas que, à luz da Bíblia, não são consideradas cristãs, mas como venho de uma família católica, tenho contato com pessoas de diversos tipos de religião e crença, aprendi a respeitar e admirar algumas demonstrações de fé. O Círio é uma delas. Não assimilo o culto à imagem de Maria, mas passando três anos em Belém e participando de diversas formas da grande procissão católica, pude ver emocionantes expressões da religiosidade e cultura paraenses. É de encher os olhos, embora entristeça o coração de boa parte de nós, cristãos-protestantes.

Bem... "vaaaaamo" parando por aqui com esses papos e vamos ao que interessa. Deixo aqui algumas das fotos que tirei durante a procissão:

Para ver mais fotos, acesse o meu álbum do Flickr, através do link Photos na barra superior desta página. A vontade que dá é colocar todas aqui no post, mas o tamanho dele já tá passando da medida. Ainda bem...

A todos uma ótima semana, ótimos tempos para cada um e até outro relato de mais outro tempo.

Abraços.


3 Comments


@_@ cara, sinceramente...
FICARAM MUITO BOAS
como conseguiste pegar essas minuncias?!?!?!
parece que o menino da ultima foto ta vendo estrelinhas XD
a 3, 8 e 9 que ainda ficaram muito atematicas
mas enfim
continua fotografando, menino.
;*


Odir, ótimas fotos, continue praticado, quanto mais praticares, mais sensivel ficará teu olhar sobres as coisas e as pessoas. Mas o que mais gostei da tua experiência fotográfica, foi o fato de te dispores a registrar uma das mais emblemáticas manifestações religiosas que se conhece, mesmo não sendo a tua crença. Pra mim, que escolhi não frequentar igrejas, para que entre outros muitos e complexos motivos, não ter que discutir adoração a imagens ou a garrafas com água do rio Jordão, tolerância e respeito são algumas das poucas coisas realmente valiosas que temos pra compartilhar entre nós, pois no fim, ao nos despirmos das convicções religiosas, políticas, sexuais e cinematográficas, só nos resta nós mesmos, humanos. Parabéns.

PS: já esta lincado.


Excelente post Odir!
Muito bom ;D