Dando uma de fotógrafo...
Bem..., foram muitas coisas acontecendo, e tudo em menos de uma semana. Semana conturbada, cheia de coisa para fazer e com os dias carregados com os preparos para o Círio que ocorreu neste domingo. Em Belém, impossível não ser atingido pela festa católica, sendo católico, sendo evangélico, espírita, judeu, ateu, testemunha de Jeová, satanista, hinduísta, marxista, ou feminista... A cidade inteira se move nos conformes de uma das maiores procissões católicas do mundo.
Eu, estressado e nervoso com os estudos, às vésperas das provas do vestibular, engoli doses amargas e quentes do engarrafamento, do "vuco-vuco" nas calçadas, da fila quilométrica do banco, do supermercado, do caixa da farmácia, da lanchonete do cursinho, da barraquinha do tio da esquina, do banheiro público de um só mictório... Que desgraça. Mas a gente releva, a gente respira fundo e pensa: "Semana que vem é uma outra semana". Mesmo quem é católico se incomoda com o inchaço da cidade, mas se empolga com a movimentação. E eu vou admitir... é interessante e empolgante mesmo...
Por isso, lendo esses jornais da vida, encontrei um artigo bem interessante, falando da impressão que outras religiões têm do Círio de Nazaré e, o melhor, grifando a palavra respeito e tolerância nas entrelinhas do texto de autoria de Anderson Luís Araújo. Como um bom "Ctrl+C'vista", não resisti deixá-lo ali, a mercê da folha impressa, e trouxe-o ao blog:
A estudante de Medicina Suelen da Silva Andrade, 25 anos, passou grande parte da sua vida em um mundo completamente católico, tendo inclusive feito a primeira eucaristia. Porém, desde 2001 optou por frequentar e seguir a Igreja Batista Missionária da Amazônia, de orientação evangélica. Ela conta que na época do catolicismo pouco participava das celebrações de sua antiga religião e também não entendia muito bem a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. "Para mim, sempre foi difícil entender. Eu não acreditava muito nessa forma de louvar, apesar de respeitar", conta.
A percepção foi decisiva para que ela mudasse de religião. Hoje, Suelen acaba sendo envolvida pelos festejos do Círio, porque sua família ainda é, em grande parte, católica, mas preserva sua crença. "Sou evangélica e participo do almoço do Círio, na casa de um parente que fica no trajeto da procissão. Mas não é por isso que vou mudar minhas convicções ou mesmo desrespeitar quem pensa diferente de mim", comenta a futura médica.
"Não dá para ser chato como as pessoas que se isolam. É preciso saber dividir as coisas. Até porque quando estou no almoço, confraternizando, não estou indo ao Círio, mas sim para ficar com a minha família", acrescenta. Suelen diz que ao estudar a Bíblia Sagrada começou a firmar seus princípios sobre não adorar imagens, o que lhe afasta da romaria dedicada à Mãe de Jesus. "Acho que a fé, sim, é capaz de operar milagres", pondera.
A evangélica ressalta ainda o lado cultural do Círio de Nazaré. "É interessante. É uma festa que consegue unir mais as pessoas. Muita gente que está longe volta só para o Círio. É bonito. Não é porque minha crença é diferente que eu não vou tolerar ou vou discriminar os outros", assinala.
Embora seja tolerante, Thuanne também menciona a questão da adoração à imagens, que sua religião não permite e acrescenta também outro ponto fundamental na diferença entre o credo católico e o evangélico: a polêmica sobre crer ou não em Maria, mãe de Jesus, como entidade divina. "Deus não divide a glória dele com ninguém. Aprendemos e acreditamos assim."
Agora, com relação à semana que passou... Deixando de lado o fato de você ter que ficar mais em casa do que na rua, primeiro porque você tem que estudar, segundo porque você prefere a quietude do lar a ter que enfrentar a confusão urbana, pude colher bons frutos do Círio deste ano. Apesar do arrependimento me bater quando penso que poderia ter sido voluntário da Cruz Vermelha mais uma vez, vejo o que fiz e penso e concluo: bom.
Quis sair um pouco da mesmice e tentar algo de novo. Na verdade, um desejo embutido em mim e que estava só esperando o momento certo para ser expressado. O momento, ou melhor, o tempo chegou e foi hoje, domingo, dia do Círio. Com uma câmera digital doméstica de 10.0 mega pixels, saí pelo meio da multidão, costurando entre os romeiros, clicando tudo o que via pela frente. Desde os pés descalços dos pagadores de promessa, passando pelos corajosos da corda, viajando com a chuva de papel picado, chegando às demonstrações de fé diante da berlinda. Como já disse, o resultado disso foi bom.
Gostaria de pontuar que não concordo com certas práticas católicas que, à luz da Bíblia, não são consideradas cristãs, mas como venho de uma família católica, tenho contato com pessoas de diversos tipos de religião e crença, aprendi a respeitar e admirar algumas demonstrações de fé. O Círio é uma delas. Não assimilo o culto à imagem de Maria, mas passando três anos em Belém e participando de diversas formas da grande procissão católica, pude ver emocionantes expressões da religiosidade e cultura paraenses. É de encher os olhos, embora entristeça o coração de boa parte de nós, cristãos-protestantes.
Bem... "vaaaaamo" parando por aqui com esses papos e vamos ao que interessa. Deixo aqui algumas das fotos que tirei durante a procissão:
Para ver mais fotos, acesse o meu álbum do Flickr, através do link Photos na barra superior desta página. A vontade que dá é colocar todas aqui no post, mas o tamanho dele já tá passando da medida. Ainda bem...
A todos uma ótima semana, ótimos tempos para cada um e até outro relato de mais outro tempo.
Abraços.