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Arte contra Arte

Posted by Odir Macêdo Neto on 20:40 in ,
Belém, 25 de agosto de 2008.

Uma dona de casa acorda às 5:30 da manhã, e ao pegar o ônibus que a levará à feira do outro lado da cidade se depara com ela. Um professor vai para a estação de metrô para seguir o seu árduo dia de trabalho e lá está ela. Um grupo de amigos vai para um show de uma banda internacional e passa por ela... Ela, a catraca. As catracas da vida estão por todo lugar; ainda mais as invisíveis. Mas seriam elas formas de domínio, de exclusão social, ou simples instrumentos do cotidiano?

O grupo "Contra Filé" despertou tal questionamento, colocando no largo Arouche uma catraca enferrujada, com a intenção de despertar a população para a presença das catracas invisíveis e a influência que elas têm na vida do ser humano. Afinal, nas catracas, é detectável o certo "quê" de método de exclusão social no soar do seu giro, em suas infinitas formas de expressão: o vestibular, processo seletivo que coloca na faculdade aqueles com maior capacidade intelectual; as grades que cercam um clube particular, sob a supervisão de guardas e fiscais; os camarotes e seus freqüentadores com suas pulseiras multicolores; etc.

Seja em locais de lazer, na oferta de oportunidades, no acesso a transportes, empregos, serviços e, até, sensações, as catracas fazem-se presentes - sem contar as vezes em que estes são as próprias catracas. Todos formas de esbanjar o poder e o dinheiro, a cor e a etnia; formas de preconceito. Mas o que é importante ressaltar é o ponto de muitas vezes os mesmos veículos de informação - ou despertadores, no caso -, que têm como missão mostrar aquilo que se esconde por detrás do mais simples objeto, cometerem a gafe de serem o próprio objeto.

A campanha do grupo "Contra Filé", baseada no dadaísmo, talvez tenha provocado a ação de pensar em alguns, mas talvez tenha sido uma própria maneira de excluir aqueles que, sem informação, não compreenderam a mensagem. No final, a catraca, seus idealizadores e o seu objetivo foram, nada mais do que... uma catraca.

Odir Macêdo Neto.