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O medo que mata

Posted by Odir Macêdo Neto on 20:35 in ,
Belém, 30 de março de 2009.

Quem nunca confessou que tem medo do escuro? Ou de fantasmas, ou da violência, ou dos políticos, ou da morte...? São tantos os medos que perseguem o homem. Mas, se fosse conferida a alguém a missão de superar um medo, aquele que menos se gosta e mais se gostaria de apagar, com certeza, o escolhido seria: o medo da vida.

O que torna o medo da vida "especial" são suas consequências: não se vive quando o tem. Medo da vida causa monotonia, tédio, chatice. Ele impede o ser humano de andar, de dar um passo a frente, de crescer.

Ele priva o homem de cantar, de dançar, de gritar quando se dá vontade. De sair de madrugada para passear com alguém. De atender ao telefone e ficar nele até ficar zonzo de tanto conversar. De ler os mais diversos livros, seja pela capa, seja pelo tamanho; ler apenas. De assistir televisão e se entupir de besteira, ou viajar para a Índia por diversão.

Imaginar a vida sem beijos e abraços é sufocante. Pois quem tem medo da vida não imagina..., sente. Não beija, não abraça, não amassa, não ama. Não diz "eu te amo", não diz "eu te quero", nem ouve, nem escuta. Medo da vida causa surdez. Não faz careta, não dá um sorriso ou gargalhada, nem vê, nem enxerga. Medo da vida causa cegueira.

Não se gostaria de superar este medo. Na verdade, mais que isso: suplicar-se-ia para arrancarem-no da alma; gritar-se-ia por socorro; clamar-se-ia por ajuda; rogar-se-ia a Deus, aos anjos e santos, e ao Diabo e seu exército. Mas não, não iria se fazer nada. Porque quem tem medo da vida é mudo também.

No final, quem tem medo da vida acaba morrendo. Porque quem tem medo da vida não vive. Não respira, não abre os olhos, não movimenta os dedos, não se arrepia, não se emociona, não levanta, não se mexe, porque tem medo de viver. Porque tem medo da vida. E medo da vida... mata.

Odir Macêdo Neto.

Foto: MÜNCH, Edward. O Grito.