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Há tempos de fúria

Posted by Odir Macêdo Neto on 17:27 in , , ,
Belém, 23 de outubro de 2010.

Há tempos de fúria dentro de mim. Há tempos de raiva, de descontentamento com o universo, de inexplicável revolta, de infantil instabilidade da mentalidade que nos conduzem a estupidez e ao extremo dos sentimentos inúteis. Inúteis aqui eu falo por só fazerem o mal, mas são válidos, uma vez sentidos. Saindo um pouco da discussão da inutilidade do sentimento, voltemos ao motivo que está me guiando à questão que nos torna a mais humana das criaturas: a fúria e a susceptibilidade da nossa carne em senti-la, e a fragilidade da nossa alma em sofrer com ela.

Lembrando ao que ler que o conteúdo do post não condiz com o estado de espírito do escritor, mas com o momento de espírito do que está escrevendo.

Eu consigo sentir dentro de mim uma vontade de me negar a fazer tudo aquilo que me falam para fazer. Eu sinto o desejo de uma vez ou outra, chegando à frequência do sempre, poder correr atrás daquilo que eu quero, poder viver aquilo que eu prezo, poder não fazer aquilo que eu quero por opção minha e não porque me podaram as capacidades. O desejo de quebrar convenções, paradigmas, dogmas e conceitos... Bem, isso é clichê, e dizer que alguma coisa é clichê é o ápice dos clichês... O que quero dizer é que não estou interessado em fazer uma revolução. Não estou interessado em passar por cima dos limites do Estado, das Leis e da Ética e revolucionar a ética, as leis, o estado ou meu próprio mundo. Aqui quem fala não é um revolucionário, aqui quem fala não é um revoltado. Estou falando em simplesmente poder um dia colocar minhas pernas pro ar, ou então de pé mesmo jogar minhas mãos para o céu, agradecer se acaso eu tiver alguém que eu gostaria que estivesse sempre comigo e pedir para ela que "Hoje, só hoje, me deixa ficar um pouco só..." Não é falta de consideração, não é a importância dela que está em baixa, mas é um egoísmo necessário que pede para eu ter um tempo só para mim.

A fúria nasce, cresce, cria suas raízes quando vejo que estou amarrado à impossibilidade de conseguir aquilo que quero, nem que seja por um dia. E vejo que a cada dia que passa, menos livre para ter um dia desses serei, e mais atarefado, mais comprometido, mas resposável por algo ou por alguém serei, ao ponto de estar definitivamente colabado àquilo que me assusta: o fato de que existem tempos em que não somos donos do nosso próprio nariz.

É triste dizer, é triste ver isso acontecer, mas o fato é que quando me dou conta de que estou preso à isso, tenho que me inundar de momentos de fúria.

Obrigado. Até outro tempo.