2

Meu Conclave

Posted by Odir Macêdo Neto on 12:40 in ,
Belém, 04 de maio de 2009.

"
Conclave (do latim 'cum clave', que significa 'com chave') é a reunião em clausura muito rigorosa dos cardeais aquanto da eleição do Papa. Os cardeais permanecem incomunicáveis com o exterior até haver um Papa escolhido."

Gente, é terrível o quão grande é a duração do infinito. Mas talvez eu consiga aproximar-me disto... Estou desde o dia 30 de abril sem sair de casa, e hoje já são 4 de maio, sendo que só vou poder sentir o ar externo amanhã, 5 de maio.

Sem sustos! Não é bem uma reclusão voluntária, umas férias desejadas, uma exclusão do mundo exterior, um jejum da vida de lá fora em busca do conhecimento da vida de cá dentro, nem uma revolta com o sistema, uma greve contra o capitalismo, ou uma preguiça indescritível. São causas bem maiores do que estas.

Ao início deste ano, no início das minhas férias em Macapá, após analisar algumas importantes evidências, que não vem a calhar citá-las, exames e mais exames, e uma crise de dor insuportável, concluíram que eu tinha um problema com cálculos renais (dois, para ser mais preciso). Correndo atrás do prejuízo, consultei alguns médicos, fiz alguns outros tantos exames e retornei a Belém, por motivos de força maior, com a esperança de me livrar do cálculo de forma natural e com o temor de ser acometido de mais uma crise de dor insuportável.

Eis que o pior me veio. Além de não ter expelido a pedra, com a ajuda de medicamentos e muitos goles de água, senti as dores do cálculo (do parto). De madrugada, sozinho em casa, sem ninguém pra ligar e sem coragem para fazê-lo. Na verdade, até que tinha gente pra me acudir nessa hora, mas a coragem de ligar é que faltava. Não era bem um orgulho! Mas uma vergonha em incomodar... Frescuras à parte, sofri sozinho. Nossa! Que dramalhão! Dá até vontade de pensar na possibilidade de deixar escorrer um pingo de dó através de lágrimas pelos olhos. Como já disse, frescuras à parte, foi assim.

Recuperado do susto, refiz o meu caminho em busca de ajuda médica. Depois de encontrar, fiz outros exames, corri atrás de uma papelada, esperei pela boa vontade de terceiros, fui escravo da burocracia, exercitei a minha paciência, tentei poupar as minhas unhas do meu nervosismo, e por fim...: marcamos o dia da cirurgia para retirar o cálculo.

Antes que haja gritos, para os desavisados, o procedimento é feito sem cortes ou bisturis. Chama-se ureterolitotripsia. Parece um assunto um tanto quanto complicado para se tratar em blog sem fins médicos, apesar de eu estar estudando para essa área, mas não vejo necessidade para detalhá-lo. Entretanto, como cara esclarecido e que quer ser esclarecido e que é dono de um blog com qualidade e que quer ter qualidade, busquei algumas informações através desses Google's da vida e encontrei uma boa citação:

"A ureteroscopia e a ureterolitotripsia transureteroscópica têm sido cada vez mais utilizadas, graças ao aperfeiçoamento dos ureterorrenoscópios, a partir do início da década de oitenta. De todas as ureteroscopias realizadas, 94% se dirigem ao tratamento de cálculos ureterais. O ureterorrenoscópio rígido se presta mais ao tratamento de cálculos ureterais até a altura das artérias ilíacas, enquanto o ureterorrenoscópio flexível tem mais utilidade para tratamento de cálculos localizados no ureter proximal e rim."
Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia
in: http://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/40-Ureteroscopia.pdf

Quem continua sem entender nada, levanta a mão! \o/

Continuando... Fiz a tal da ureterolitotripsia transureteroscópica (hehehe, nomezin difícil!). E estou, como já disse, em um período de reclusão. Um período de repouso, o chamado pós-operatório. Tomando alguns cuidados comigo mesmo, tomando alguns medicamentos, tomando uns quantos litros de água por hora, assim tem sido esse meu período de conclave.

A estranheza disso tudo, o mais importante disso tudo, o que realmente me motiva a vir aqui postar, ou seja, o tutano desse post, é que eu tenho passado por um momento um tanto quanto perturbador em minha vida por conta disso. Perturbador porque... Já se imaginou vivendo uma semana recluso às quatro paredes da sua casa? Já se imaginou vivendo sete dias sem fazer aquilo que você habitualmente faz? Tá certo que pra isso existem as férias, mas pelo menos nas férias, você faz aquilo que gosta, ou pelo menos parte daquilo que gostaria de fazer. Então... Já se imaginou vivendo sete dias sem poder fazer aquilo que você realmente quer fazer, sem poder fazer aquilo que você tem que fazer, ou seja, as suas obrigações, e sem poder sair de casa nem para comprar um pão ali na panificadora da esquina?

Acho que deve existir gente que já fez, ou já passou por algo parecido. Então, companheiros de repouso obrigatório, acompanhem-me nas minhas idéias: o que deve passar pela cabeça de um cara que fica trancado em casa por sete dias?! Na verdade, o que deve ter passado pela cabeça de Odir Macêdo Neto?

A resposta? Nada! Exatamente isso, caros amigos. Nada! Na verdade, muita coisa, mas uso Nada como força de expressão. Afinal, quando se está em casa sem fazer nada, sem poder fazer muita coisa, e impossibilitado de fazer o que gosta, só resta pensar. E pensar quando não há opção, acaba sendo cansativo. Pensar deve ser necessidade, deve ser prazer, deve ser gostoso, deve ser um gosto, um hobbie, e não uma segunda opção. Se bem que nos dias atuais, com tanta coisa pra fazer, pensar acaba se tornando a sétima opção. Ou nona. Melhor..., a décima segunda. Não creio, acho que lá pra vigésima sexta depois de repetir umas sete vezes a vigésima quinta. Enfim, entendem o que digo? Creio que sim... Resumindo, pensando ou não, acaba sendo nada.

Descartando um pouco os exageros, peculiares à minha forma de expressão, devo dizer que fiz até alguma coisa e que pensar nem foi assim, a única opção por falta de outras. Estudei, é, isso eu fiz. Mas, estudar, principalmente aquilo que a gente não gosta muito, é chato. Vou ser sincero, é chato demais. Tá certo que o conhecimento nunca é demais, mas quando é degustado por livre e espontânea vontade, e não quando é empurrado na marra por livre e espontânea pressão, como costumam brincar. Desprezando isso, estudei o que tinha que estudar, e fiz algumas leituras, que acho que não teria feito, senão fosse a ureterolitotripsia.

Finalizando o post, a boa notícia é que havendo ou não gripe suína, assoprando ou não os ventos em São Paulo, caindo ou não o céu em cima dos "pób'véi" da Amazônia, vindo ou não o presidente iraniano fazer uma visita ao presidente de cá, terça-feira eu me liberto das amarras desse conclave. E retomo a minha vida, estudando e estudando e me dedicando a estudar, para no final do ano celebrar com Brígida, Denisson, Ceiça, Renatinha e derivados a aprovação. E isso é uma verdade... Acabando ou não o tradicional modelo de vestibular, essa é uma verdade.

Abraços a todos os que tem o dom divino da paciência e até outro tempo.

P.S.: Eu não vivi de estudar e nem de ler e nem de pensar e nem de me entupir de comida, porque agora eu nem posso mais. Usei e abusei da internet, assisti televisão e sorvi a cultura inútil que me rodeia e que tanto nos quer bem. Para mostrar um pouco disso e divertir um pouco mais, um vídeo do 15 Minutos da MTV, com o Marcelo Adnet. Uma piadinha gostosa sobre o Calypso daqui do Pará. Divirta-se e dance!




Tchau!

Odir Macêdo Neto.

2 Comments


"Quem continua sem entender nada, levanta a mão! \o/"

\o/

nao entendi nada
pqp. depois da clausura da doença veio a greve, q 'sorte' ein
xD


Oi. Amanhã pela manhã vou fazer a mesma cirurgia que vc fez. Estava dando um google pra pesquisar sobre isso e acalmar o medo que me invade. E... encontrei o seu texto. Pra Me catou esse teto, viu? como foi a recuperaçào?..